quarta-feira, dezembro 20, 2006

esperar

esperava por ti. á janela. como talvez a minha avó fizesse quando namorava o meu avô e ficava horas perdidas à espera de o ver passar. eu também esperei assim como ela. fumava um, dois, três cigarros. às vezes o maço inteiro. eu não esperava que passasses simplesmente. eu queria que entrasses. de uma vez por todas. e ficasses. absolutamente tu. porque te queria imensamente. esperava apesar de tudo. porque sempre acreditei que depois de cada despedida tua por mais dolorosa que fosse, haverias de voltar. e um dia, longe ou perto, me segredarias: és tu. nesse dia haverias de entrar, fechar a porta e ficar. nunca entraste. limitaste-te a passar por debaixo da minha espera.

depois... um dia saí da janela e fui viver a minha vida...

Esperava que esperasses por mim sempre. para sempre. até eu ter tempo de crescer. correr mundo, deitar-me com todas as ninfas e deusas, viver mil aventuras e depois só no fim desse depois voltar para ti. esperava que te mantivesses fielmente à janela à espera do nosso amor. esse nosso amor que ninguém nos há-de roubar. porque há noites que serão só nossas, acredita. foi por esse amor que esperei sempre. foi por esse amor forte, címplice e tão absoluto que corri mundo porque esperava encontrar outro igual. não encontrei. só há o nosso. agora só meu. porque não esperava que não me esperasses.

sábado, dezembro 09, 2006

aconteceres

aconteça o que acontecer, nunca te vou esquecer...



eu também não. apeteceu-me dizer-te. mesmo que quissesse. tenho como uma daquelas certezas demasiado minhas. definitivas e absolutas. que não. não te vou esquecer. e confesso-te no silêncio desta madrugada, também a mim me apeteceu chorar. nessa ocasião como nunca. quando as tuas lágrimas se misturam com a pele do meu colo, quando os meus dedos se enrolaram com os teus caracóis de menino e eu te tive como ninguém te teve. acho que foi nesse momento que percebi que nos amávamos e que erámos impossiveis lá fora.



aconteça o que acontecer.

terça-feira, novembro 28, 2006

quase, quase

a atingir a idade mítica em que depois disto já não dá vontade de ver o tempo a passar no relógio. as contas são outras e as horas são assaltos disfarçados aos dias que correm cada vez mais depressa.e já não esperam como esperavam dantes.
dantes quando me podia sentar no colo de alguém.
dantes quando alguém me vigiava o sono.
dantes quando alguém me prometia que eu era uma princesa e que iria ser feliz para sempre. dantes quando perdia horas a falar ao telefone com as amigas sobre coisa nenhuma.
dantes quando sonhava que se podia mudar o mundo.
dantes quando acreditava que o mundo era a casa, o bairro, a cidade, o país.
dantes quando eu podia segurar a mão de alguém e me sentir segura.
dantes quando o meu medo eram os papões.
dantes quando todas as minhas feridas se curavam com álcool.
dantes quando bastava a mão na minha testa para todas as dores passarem.
dantes quando não sentia saudades.
dantes quando as histórias me embalavam.
dantes quando os meus mortos eram vivos.
dantes quando eu não pensava. não sentia o tempo a passar.
dantes... foi já há muito tempo. longe demais.

quando as luzes se apagam

fica só a luz das velas. o vinho nos copos, o eco dos risos durante o jantar, as marcas do sorriso no rosto. fica o resto de tudo o que se disse. o silêncio do carinho quando os teus braços me envolvem num longo abraço. ficam os beijos ténues que depositas no meu rosto e nas minhas mãos. como quem diz que o amor pode ser isto. ou que o amor deveria ser isto.
quando as luzes se apagam... apetece recolher-me nos teus baços e não ser ninguém. esquecer-me de ser gente. de ser alma, coração ou pele. apetece-me morrer em ti.
e assim que as palavras acontecerem na minha boca, vou dizer-te que é do vinho, quando os meus lábios tocarem os teus, vou dizer-te que é de carinho, quando as mão se procurarem, vou-te falar inevitavelmente da solidão. quando as luzes se apagarem, vou-te falar de nós.

domingo, novembro 19, 2006

casamento

ver-te no altar. depois de tudo. ver-te a colocar a aliança. a sorrir. feliz. o dia era teu. a festa também. susti as lágrimas o mais que pude. mas mais do que te ver partir doeu saber que crescemos. nada mais volta a ser igual. nem as brincadeiras, os segredos, ou as guerras de almofadas. mudou tudo. hoje já não tenho medo que caias da árvore e partas uma perna, hoje tenho apenas medo de não te ver sorrir.

sexta-feira, novembro 10, 2006


Tens agora a mão fechada;

no rosto, nenhum fulgor.

Não foi nada, não foi nada:

podia ter sido amor.

* o poema é de David Mourão Ferreira. O quadro é de Dali. o momento é meu porque não pode mesmo ser teu.

sábado, novembro 04, 2006

hoje

Hoje escrevo apenas para me ler. Para me tentar lembrar de quem sou. do que fui. leio-me nas entrelinhas de parágrafos passados e tento encaixar-me ali. eu que já fui aquilo tudo. já senti mesmo aquilo tudo. e tudo aquilo já acabou. porque o tempo passou.
ainda acho que escrevi demais. que fui coisas demais no tempo que se esgotou hoje. cristalizei-me no gelo dos afectos. porque não sei escrever-me. hoje. tão só. tão eu. tão demais. avanço por dentro de mim. no espelho dos laços. toco-me para ter a certeza de que sou eu. já não sei escrever-me. já não sei ser eu.

sexta-feira, outubro 27, 2006

Fechar os olhos

00:30
Apaga a luz. Tenho sono. Deixa-me dormir. Hoje o dia foi mau. Não, sabes bem que não a esta hora não quero ler, só dormir, importas-te?


00: 32
Sei lá, se estou a ser intransigente, a esta hora podia ser tudo, até o detergente para a máquina. Esse mesmo aquele que te esqueceste de comprar. Amanhã não tenho a camisa azul lavada por tua causa.


00: 35
‘tá bem! Também não quero discutir, só dormir. Apagas a luz?! Quero fechar os olhos. E sonhar.


00: 38
Com quem? Sei lá. Com quem. É quase uma da manhã, e perguntas-me com quem é que eu quero sonhar? Olha quero sonhar que estou a dormir, serve-te a resposta?


00: 42
Queres fazer o quê?! Uma reflexão sobre o nosso casamento? A esta hora, desculpa mas é impossível. Sei lá, se é o nosso casamento que me dá sono, talvez sejas tu, o coitado do casamento não é para aqui chamado.


00: 46
Gosto, gosto muito de ti, vou gostar ainda mais amanhã, se hoje puder fechar os olhos e esquecer-te por algumas horas.


00: 48
Estou cansado, vê se entendes, quero dormir. Também devias dormir, fazia-te bem à pele, amanhã parecerás outra mulher.


00: 53
Claro que não, não estou farto da tua pele, ou do teu corpo, é igual ao de antes, melhor, pronto, as plásticas e os cremes fizeram-te bem. És linda, olha mais bonita ainda do que aquela modelo que apresenta o programa da tarde.


00: 55
Não, não estou a mentir. Era lá capaz disso, a esta hora...


01:00
Fecho finalmente os olhos. Boa noite. Também te amo...

domingo, outubro 15, 2006

aperta-me contra ti.

Aperta-me contra ti.


A mão primeiro, claro. Porque não nos conhecemos. E talvez sim. Posso querer-te conhecer. Se melhor ainda não sei. Mas também há tanta coisa que não sabemos um sobre o outro. Não sabes o que é essa marca de aliança no meu dedo. Nem sei porque tens as unhas roídas. Não sabes porque quero que o aperto seja breve e seco. Não sei porque é a tua mão ainda agarra a minha. Não sei porque gosto desse teu aperto de mão.


Aperta-me contra ti.


Um abraço. Agora acho que sim. Já podemos dar um abraço. Assim posso deixar o velho hábito de me abraçar a mim mesma quando estou triste. Os teus ombros podem esmagar os meus. Quebra nozes em tom de abraço. Talvez discretamente as tuas mãos possam acariciar as minhas costas. Talvez as faces se toquem. Talvez seja um abraço demorado. Silencioso. Para que as palavras possam ficar apertadas entre nós. Sem que caiam cá fora. E se magoem.


Aperta-me contra ti.


Um beijo. Sim. Treinei-os no espelho da casa de banho. Em miúda como todos já fizeram. Porquê a surpresa? Beijo lento, encantador, desejo apertado nos lábios. Quero-te já não escondo. A mão apertada na minha porque às vezes tudo dói demais. O abraço onde me posso esconder. O beijo onde me perco.


Aperta-me contra ti.


O corpo. todo. As mãos. Os braços. A língua. As pernas. Os cabelos entrelaçados que se perdem na almofada. Devia dizer-te qualquer coisa aqui. Deveria parar esta engrenagem e dizer-te amo-te ou coisa do género bonita como no filmes. Penso só. Não consigo falar. fazia por ti qualquer coisa que me pedisses. pelo desespero do teu corpo que é só carne apertada dentro de mim. Fazia tudo. Quase tudo emendo mentalmente. A aliança ainda me aperta….



*Texto publicado no dnjovem versão net



segunda-feira, outubro 09, 2006

o amor

porque acabamos sempre a falar dele. com ele. ou por causa dele. o amor é uma merda. o amor é fodido. o amor é apenas o que é. inevitavél. absoluto. definitivo. imenso. nosso. intímo. às vezes demasiado intrasmissivél. o amor pode ser tudo isto. num beijo prolongado. num olhar que se fixa. na palavra. no gesto. num silêncio de sorrisos. pode não ser nada disto. não sei. nem sei mesmo se quero saber. para mim é o que é. dói o que dói. e vale sempre a pena vivê-lo. em absoluto.

domingo, outubro 01, 2006

a declaração de amor. ou talvez não.

Deixa-me aproveitar que estou sob o efeito do vinho para te poder dizer tudo aquilo que me ficou entalado na garganta e que só nunca te disse porque não o permitiste. Contigo, não posso ser acusada de falta de frontalidade. Sempre tive coragem ou estupidez aguda para dizer que gostava de ti. Para dizer que te desejava. E no fim, hoje, para dizer que te amei. Que sim, que foste o meu primeiro amor. Que tudo aquilo em que a nossa relação se tornou foram um conjunto de erros. A bola de neve que não parou de rolar. Há dias, em que sim, em que quase vejo em ti aquilo que vês em mim. Há dias, minutos em que te olho e vejo só um homem. Há outros em que vejo um amor. Há outros em que me pergunto como pude ser tão teimosa. Há outros em que olho apenas para mim mesma e me pergunto se tudo isto valeu a pena. Se tantas noites, tantas humilhações, tantos erros, valeram a pena. Tenho a certeza que sim. Por mim. Porque à força de inúmeras lágrimas me demonstraste qual é a beleza do amor. O esperar à janela pelo o que nunca vem e ao mesmo tempo guardar a esperança que um dia há-de vir. D. Sebastião, num dia de nevoeiro, arrancando-me aos laços em que me prendi. Desapertando-me os nós que me ligam a ti. Absolutos e por vezes tão assustadoramente definitivos. É esse o amor. que já não me liga a ti. mas um outro. pelo qual já não esperava. mas apareceu-me e soube-me encontrar. já não sentada à tua espera. mas à espera de mim mesma. ainda cá estás. mas do outro lado da linha. é bom acenar-te e saber que já partiste. quem sabe se para sempre. amor teu. para sempre. ou talvez não.

sexta-feira, setembro 29, 2006

ontem



não gosto de cemitérios. fazem-me lembrar que estou viva. e isso às vezes parece-me tão injusto. como ontem. fizeste anos. demasiado longe de mim.

terça-feira, setembro 26, 2006

aqui

porque não há mais lugar nenhum onde possa somente gritar sem ninguém me ouvir. porque aqui sou eu sem o ser. porque isso não interessa agora. interessa-me apenas ficar. assim. quieta. à espera que as lágrimas venham. quentes e silenciosas. depois tudo vai passar. quero acreditar.
as lágrimas não descem dos meus olhos. o grito pára na garganta. o lago imenso dos meus olhos fica parado à espera da próxima tempestade. Que há-de vir. vem sempre. é assim a vida. aqui.

segunda-feira, setembro 18, 2006

palavras

Estas são antigas. mas ainda fazem todo o seu sentido. libertei-as do pó da memória



"Longe do olhar dos outros, respiramos ao mesmo tempo- como uma engrenagem única e bela. Resquício de memória que se apaga lentamente, sem que ninguém dê por isso."



Al Berto in "O Anjo Mudo"

sábado, setembro 16, 2006

curiosidades...

não gosto de dar explicações. de traduzir os meus textos. de lhes retirar a alma e transcrevê-la para a vida real em que as palavras são o espaço absurdo que fica nos lábios depois de um beijo. qualquer que seja. mas satisfaço a curiosidade de alguns e-mails e confesso. muito ou quase tudo do que está aqui é real. aconteceu. deixou marcas. é meu. partilhá-lo é um acto de egoismo meu. porque o amor também é isso nas palavras da poetisa. Cantá-lo. Gritar. Escrever. O eu. o aqui. o agora. o nós. o depois.

sexta-feira, agosto 11, 2006

este luar

já dura há três anos. e foi feito a pensar num prazo de validade de três meses, não mais que isso. Talvez por isso até já tenho passado de prazo e esteja velho e amassado. É, no entanto, ainda o meu mundo. a preto e branco. a cores. a sorrir. com lágrimas nos olhos. Sou eu nalguma parte de mim que se revela nas palavras e se traduz simplesmente na meia luz deste noite de lua. aqui sou simplesmente eu. nua. quando atravesso o espelho e me lembro de que às vezes tudo ainda pode fazer algum sentido. ou não. como os sentimentos que ainda teimo em cultivar. ou mesmo como o blog em si mesmo. quer faça ou não sentido. aqui está ele. repleto de histórias. de mim.

quarta-feira, julho 26, 2006

tenho saudades destes caminhos...












a foto é minha. a viagem é nossa. o dia era meu. fim de dezembro. os meus anos. um frio imenso. o entardecer do depois na varanda. a olhar deslumbrados para a paisagem. fazendo contas à vida para comprar a casinha feita de pedra no meio desta aldeia. perdida algures no meio de Portugal. foi a viagem da descoberta. da casinha de pedra e dos sonhos que podiam ser os nossos. a foto é minha. o dia era meu. as saudades partilho-as contigo.

domingo, julho 23, 2006

imagina-te...

imagina o avião. eu de cabeça colada à janela, passeando os olhos pelas nuvens, olhando-te de momentos a momentos e sorrindo. imagina o quarto de hotel depois. desfazer as malas. arrumar tudo nas gavetas. as tuas coisas junto às minhas. agora pelo menos. as escovas de dentes quase a tocarem-se. os teus lábios nos meus. a cidade depois à nossa espera. de mãos dadas. porque a idade ficou lá na outra cidade. os olhos postos no desconhecido. eu e tu, junto ao rio. no arco do triunfo. a torre que se ergue por cima das nossas cabeças. os bairros de artistas das histórias com as quais me encantava e te sonhava assim também. imagina as pessoas a virarem a cabeça na rua. riem-se. criticam. não faz mal. somos nós. aqui. onde não devemos satisfações a ninguém. atravessamos o canal e o relógio anuncia o nosso tempo. paramo-lo. conto as estações de metro. eu sei já me perdi neste submundo. debaixo da terra. imagina o verde do parque que atravessa o nosso olhar. imagina a rainha. imagina-me princesa. imagina-nos. consegues?

quinta-feira, julho 20, 2006

Até já

Agarro a porta. fechá-la é fechar também qualquer dentro e mim. de nós. admitir que alguma coisa se quebrou. que do encantamento de ontem sobrou apenas a despedida de hoje. as nossas mãos em cada lado da porta. tu a fechar. eu a tentar deixá-la aberta. para quem sabe um dia depois. depois da tua vida. depois da minha. Damo-nos por fim as mãos, depositas-me um beijo rápido nos lábios e fechas a porta com força. Corro até à janela para te ver. Atravessas a rua sem olhar para trás. eu sei. a vida não espera por nós. Deixo-me ficar a ver-te entar no carro e a disparar pelas ruas de lisboa. já te foste.



Até já

terça-feira, julho 11, 2006

E porque...

Porque todas as histórias de amor são repetições inevitáveis de outras tantas histórias de amor. Porque todas as histórias de amor começam assim sem darmos por isso. E acabam sempre mal. Pelo menos as mais bonitas. A minha acaba assim...

And once again the story ends with you and I

Anastacia

quarta-feira, julho 05, 2006

A arte

"A arte é uma coisa que tão pequenina se torna infinita: cabe no espaço breve entre os teus olhos e a ponta dos teus dedos mas chega ao céu."Murphy



porque foi a frase que inspirou o meu dia...

segunda-feira, junho 26, 2006

toca-me...

e és noite. madrugada destemperada. o fogo que já me consumiu. o vinho derramado nos seios. os teus lábios sorvem-no agora em mim. bebes-me de um só golo. marcas-me. num ardor crescente que sussura palavras quentes junto ao ouvido. num arrepio que já é mais do que arrepio. é a excitação molhada. do vinho que se espalhou por nós. tinto. sangue. de mim que retiveste em ti. que me trincas. bebes e me fazes tua. aqui. porque a nossa noite é o dia a amanhecer sem cama. o chão chega. porque a pele quer mais aqui.agora aqui. agora já não sei. acho que te quero em todo lado. e em mim. aqui já. Toca-me...

domingo, junho 25, 2006

reencontrar-te

porque a vida tem o inimitavél poder de juntar, separar e voltar a juntar as pessoas, hoje vi-te. Revi-te. Passaram dez anos. Tanto tempo. olhámos para o corpo um do outro e não nos reconhecemos. pinto o cabelo, já não uso ténis e os óculos são lentes que ampliam o meu olhar três vezes. já não usas o cabelo comprido, a barba de três dias, a roupa preta e as botas da tropa. fez tudo parte de uma época, justificas enquanto acendes mais um cigarro. o vício que ganhei quando me apaixonei por ti. há dez anos. o tempo passou por nós e fez estragos. deixou-nos mais alerta, atentos ao que se passa fora de nós mesmos quando há dez anos atrás erámos apenas nós e o grupo o que verdadeiramente importava. mas dez anos não te tiraram o sorriso desses lábios que ainda apetece beijar, dizes-me ao ouvido em jeito de despedida.

sábado, junho 17, 2006

onde estás?

deste lado há um imenso véu cinzento. nevoeiro cerrado em noite escura. sem luar. nem estrelas. nada sei de ti. ameaço mesmo neste fim de noite nada saber de mim também. porque já não me conheço. não ouço vozes. não vejo pessoas. persigo as sombras na esperança da luz. não te encontro. alguém desse lado. ONDE ESTÁS?

terça-feira, junho 13, 2006

por detrás das palavras

há quem se tenha apaixonado por mim porque me sonhou um dia. há quem se tenha apaixonado por mim por causa do sorriso que exibo quase diariamente. outros apenas pelo olhar de menina marota. outros pelo coração que alcançaram e tentaram conquistar. outros pelos jeito encaracolado do meu cabelo que me molda o rosto. outros por qualquer outra coisa que não me quiseram confessar. Há quem se tenha somente apaixonado através das palavras. das minhas. é verdade aqui está muito de mim. talvez esteja mesmo o mais importante. o sonho. o sono. as lágrimas. os sorrisos. o amor. o resto é a realidade e por essa poucos se apaixonam.

segunda-feira, junho 12, 2006






"Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela. "
Pablo Neruda

quarta-feira, junho 07, 2006

regressos

gosto do movimento dos teus dedos. como eles percorrem as teclas e lhe emprestam alma. como as letras no ecrã compõe descrevendo silêncios, dos quais ainda não sei falar. gosto do arrepio constante que as tuas palavras me provocam. gosto quando voltas. como se não te tivesses ido. como se a vida tivesse parado naquela estação de comboio apinhada de pessoas que não entendiam que iria ficar sem ti. para eles erámos mais um casal de namorados que se separava. para mim era muito mais. era eu sem ti. sem o teu cheiro. o teu corpo para me embalar ao som das histórias de amor que escrevias para esconderes a nossa. a que se escondia nas quatro paredes da casa arrendada para escreveres apenas o livro. eu era o resto. o chá de canela sempre quente na chávena perto do computador, o cinzeiro despejado vezes sem conta durante o dia, era o passeio breve pela areia molhada ao fim da tarde, era o corpo meio adormecido e espraiado na cama que acordava no toque molhado dos lábios. eu era isso tudo. e era tão pouco...

sem despedidas apenas te levei à estação e te disse adeus. não erámos por isso um qualquer casal de namorados. nem pai e filha, aviso os mais destráidos que não reparam na paixão que transbordava dos nossos olhos. erámos alguma coisa. alguma coisa que regressou.

a praia por horizonte. tu aqui tão perto. os vestidos compridos brancos que escondem o desejo do meu corpo e lhe impingem pureza. de novo. quanto tempo? outro livro? o que afinal te levou a regressar? eu continuo aqui por detrás da chávena de chá, deitada na cama à espea que as palavras parem dentro da tua cabeça e a tua possas descansar no meu colo.

segunda-feira, junho 05, 2006

podias ter sido tudo

podias ter sido tudo e foste apenas palavras. podias ter sido tudo e foste apenas a oração fervorosa da primavera a despontar. um verão quente sem água. sem ti. é sempre assim. este fim do nada. no fim do mundo onde nunca nos vamos encontrar. o horizonte molhado entre o céu e água.a terra do nunca. porque nunca quiseste crescer. ou apaixonares-te. amar. eu sei que amas. e tens medo do resto. eu já não tenho medo de nada. cresci demais. e comecei pelo fim. o sexo antes do amor. o ódio antes da paixão. tu antes de mim. a morte antes da vida. os livros pela última página. mulher antes de ser menina. pesadelos antes de sonhos. e tu... sempre antes de mim. podia ter-te amado se o sempre existisse. podia ter-te amado se eu pudesse amar. se eu conseguisse amar. podia ter-te amado se não começasse tudo pelo fim. a nossa história começou pelo fim. a cumplicidade de dar as mãos em silêncio e saber que nesse silêncio está um amor passado e enterrado. que nunca existiu. o fim antes do princípio. tua. nunca meu. o sexo dos outros porque não há amor entre nós. a intimidade porque nunca houve amor. podias ter sido tudo e és apenas a tatuagem que não arranco de mim. o fim em que não acredito.a mentira que alimento.


podias ter sido tudo... és o amor que não pude viver

quarta-feira, maio 24, 2006

ao céu... por nós

porque até no mais negro céu há um sempre um sol a querer despontar...

segunda-feira, maio 22, 2006

a árvore


esta é a minha árvore da vida.

domingo, maio 21, 2006

os sons do silêncio

porque te escrevo. nestas palavras mudas. ambíguas. circulares. onde me perco e te tento encontrar. despertar-te para mim. e chegar ainda que devagar e a medo a ti. que habitas em qualquer parte. que podes ser qualquer um. que me intrigas e me surpreendes. me desafias e me abandonas. tudo em ti são palavras. silêncios que se perdem na distância. algures num local que não conheço e quero encontrar. ver. olhar. perceber. sentir o que sinto nas palavras. ouve-me aqui. escuta a impaciência de uma juventude que me atravessa o olhar e se crava nos olhos de quem vê. toca-me. sente a pele quente e enlouquecida. usa as palavras. o silêncio da música que preenche os espaços tão vazios entre mim e ti. encontra-me. espero por ti. no silêncio. que disfarço com as palavras. as minhas ou as tuas?

domingo, maio 14, 2006

olhares

- Podes olhar agora. Eles estão-se a despedir. Conta-me o que vês...



Ele e ela despedem-se sempre desta forma. Assim como nós o fazemos em público. Nós somos apenas um aperto de mão mais caloroso ou quando nos permitimos um abraço com as características palmadas nas costas.


Eles são o beijo na testa. Simples. Seco e desprovido de tudo o que ela queria dele.


Nós, porque não pode mesmo ser de outra forma. Não nos podemos beijar em público. Somos dois homens. E isso ainda fica mal. Apesar de tudo.


Eles são dois amigos. E os amigos não se beijam.


Ele só beija outras mulheres na boca quando as quer levar para a cama. Ele só as toca quando as deseja.

Pergunto-me, enquanto os observo desta janela se ela se dará conta que embora falte o desejo a ele, há amor nos gestos toscos dele.


Porque raio ela simplesmente não desiste e não vai à procura de outra pessoa?- perguntas-me tu, enquanto os teus lábios acariciam a barba miúda.
Como é que ela consegue aguentar em silêncio? Como é que ela consegue amar naquele silêncio de lágrimas e sono?


A resposta é-te dada pelos meus lábios. Quentes. Exigentes. E duros como quase sempre. Ela, como nós habitou-se a amar, em silêncio, respondo-te por fim.


Num silêncio que nem ela compreende. Num silêncio imposto pelo olhar calado dele, cheio de ameaças de fim se ela por uma vez ousar dizer mais do que lhe é permitido.


É verdade, eu também te ameaço com o olhar muitas vezes. És um miúdo. Quantos anos a menos do que eu? Quantas experiências e vivências diferentes temos nós?


Ás vezes na inocência que conheço de cor, queres-te embrulhar em mim. Como se eu te pudesse cobrir e proteger. Ser o teu pai, ser o teu irmão e o teu amante. Não posso.


Eu sou apenas isto. Aqui. Dentro destas quatro paredes. Amo-te. Mas só aqui.




Olha para eles, diz-me são felizes?

sábado, maio 13, 2006

voltar

sair deste mundo pequeno. voltar ao espelho. ao outro lado. onde as emoções tomam conta de mim. correm-me nos dedos. e depois. as palavras que me acontecem nos dedos. tenho medo. acreditas. medo de depois não conseguir desse lugar encantado. onde sei que me esperas no lusco fusco de um amor tardio.

quarta-feira, maio 10, 2006

ainda a casa

A casa viu-me crescer, sonhar, chorar, rir, sorrir. viu-me gostar, desejar e amar.Agora é finalmente minha. depois de tudo. esteve quase quase quase para não ser. esteve quase para ser vendida. teve obras. agora é um arco-íris. cada divisão tem uma personalidade própria com uma cor para si mesma. todas respiram novidade. alegria. renovação. as paredes são as mesmas. sem papel. mas cheias de memórias e de histórias. um albúm silencioso que sabe segredos e pecados a mais. não há lixivía que tire o cheiro da sabedoria que estas paredes possuem. não há cortinas que tapem a luz que inunda a casa e me faz amar esta cidade. não há risos e sorrisos suficientes que limpem as lágrimas encrustradas nestas memórias que as paredes conservam. podia viver noutra casa. como vivi. e como desta vez estive quase quase a viver. podia ser uma casa mais pequena, menos dispendiosa, menos velha e problemática. mas não seria esta casa. não seriam as paredes que sabem de ti. não seriam elas as testemunhas de um amor que
esta é definitivamente a minha casa. cada dia mais minha...

terça-feira, maio 02, 2006

há tempo

Há tempo que foi o nosso tempo que às vezes já não sei mesmo se ele foi nosso. meu. ou se tão somente ele aconteceu. foi há tempo que parece num outro tempo. havia tempo para um sorriso, um olhar, um gesto, um silêncio em que o teu o beijo descia no meu pescoço. e o tempo se ia na corrente dos ponteiros do relógio que teimavam em não parar. havia tempo nesse nosso tempo. hoje falamos apenas da falta de tempo. que tempo? o nosso?

sexta-feira, abril 28, 2006

a vida sem memória

foi assim. os pequenos esquecimentos do dia a dia. ninguém quis ver. acreditar. a tua memória era de elefante. o mundo ficou lá atrás. os teus olhos viam pessoas. fantasmas que habitavam um mundo que já não te lembravas. que não fazia sentido. as mãos na cabeça assustada. o barulho da rua, os carros na estrada, as buzinas e as pessoas que se atravessavam no caminho. nós à tua espera. e tu sem saber quem nós erámos. e nós sem saber em quem te estavas a transformar. tive tanto medo. e só chorei uma vez. quando deixaste de saber quem eu era. mas sorriste-me sempre. até ao fim. mesmo que já não te lembres.

sexta-feira, abril 21, 2006

gostar

perdi-me da vontade de amar. não consigo e não sei se algum dia vou querer conseguir. fico-me por aqui. pelas coisas simples. gostar. gosto. muito. simplesmente. de ti. amar. acho que não quero voltar a saber o que isso é.

sexta-feira, março 24, 2006

quanto tempo mais?

pergunto-me por quanto tempo mais? a espera sem sentido. a janela sempre a mesma. a chuva que cai. e tu que nunca chegas. e mesmo quando vens. nunca é a mim que me vês. vês o resto. o que os olhos alcançam, o que as mãos tocam e os que ouvidos ouvem. nunca me vês com o teu coração.



quanto tempo mais vou precisar de estar à janela à espera de mim que não me vejo com o coração?

sábado, fevereiro 11, 2006

não há vento...não sei de ti...

O vento parou. as árvores quietas á espera. o ambiente tenso. algo para acontecer. e nada. não sei de ti. podia ser diferente. eu sei. será que tu sabes.


não há vento. não sei de ti. continuo parada.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Lisboa... em memória


é assim que te quero lembrar. como na foto. a partir. lá ao fundo. o cacilheiro que te leva até à outra margem. depois disso. a uma outra vida. é sempre assim. lisboa. despedidas constantes. fica a foto. a sépia. a cor das nossas memórias. fica o céu azul e a luz indiscritivél. este jardim. os passos que demos. o beijo antes do último. amanhã. não haverá lisboa.

hoje...porque é Inverno

Hoje. porque é inverno. de dias curtos. noites longas. absortas que deveriam ser em pensamentos vãos. qual Alice a atravessar o espelho. agora não mais. a cadela no meu colo. a televisão encantando o espírito com histórias de príncipes e princesas. os olhos fechados.as tremuras nas mãos a afagar o dorso dela. tenho de te contar a verdade. a ti a e só a ti. não há princípes. e eu já não acredito em princesas. o outro lado do espelho é a fantasia em que não posso cair. o lugar secreto onde nos encontrávamos. porta que fechaste. amargo sabor. procurei-te. é verdade. em pensamentos desconexos. sonhos delirantes. o futuro é nosso. só desta vez. quis acreditar. encontraste-me agora. não sei no que quero acreditar. Existimos?

sábado, janeiro 28, 2006

alone

porque sim. porque a estrada é comprida. e é de noite. não conheço o Caminho e não sei ler mapas nem decifrar códigos. sei de ti que não estás aqui, sei de mim que continuo em frente. corto as curvas e sigo às cegas. porque me procuro sem te procurar. porque já não me entendo. caio, tropeço. e já não sei nada. sozinha. porque sim. porque tem mesmo de ser. é o único caminho que conheço.


"Se não te deste a ninguém...magoaste alguém..."- Carta, Toranja

sexta-feira, janeiro 13, 2006

porque às vezes também eu me esqueço de mim

olhar-me e não saber ver-me. porque o tempo fez as suas mudanças. a última vez que me vi usava tranças. tinha olhos enormes de espanto. e sonhava como uma criança.


estou mais velha....



não uso tranças. já não me espanto.


Cresci?