domingo, maio 30, 2004

despedidas

Gosto de despedidas porque lembram que toda a gente é sozinha. É assim que me sinto pelo menos uma vez por dia. a despedir-me de ti. não há um momento final. o último adeus. nada em nós se extingue. só aumenta. transforma-se em coisas que não sei dizer. tenho medo. de te fazer chorar. e queria. juro que queria. saber despedir-me de ti.
ou então ficar contigo. mas sem doer. o amor não dói, prometeu-me a minha avó. ela devia saber do que falava. então isto não é amor. não é a dois. sou eu sozinha. que não me consigo despedir de ti.

quinta-feira, maio 27, 2004

on the road

como bagagem as latas de cerveja, alguns maços de tabaco, óculos escuros e duas mudas de roupa. não precisa de mais nada. o carro. a estrada. ele. as folhas brancas onde rascunha palavras ou pinturas. do lado de lá o inóminavél destino em forma de precípicio ou montanha. a música que nunca pára nas cassestes roubadas da última rádio onde trabalhou.
o vício é mais forte. partir. porque nunca há nada que o prenda. não há fé. não há raíz. não há porto para atracar. há a furiosa perseguição da vida. pelo sonho. pela liberdade. viajar.
sempre que pode. sempre que despe o fato e a gravata. parte. deixa a casa arrendada. (quando voltar logo encontrará outra)e segue. não procura ninguém em especial. não há ninguém especial. verdadeiramente. há pessoas que aceitamos melhor do que outras. encontra corpos. deixa camas vazias. nunca a alma. essa continua em viagem. estrada fora.

quarta-feira, maio 26, 2004

no abraço

apertado. de quem não quer largar. não quer deixar ir. preso pelos braços que juntam corpos. vidas. opostas. como só eu sei. quase gosto destes regressos. desta viagem que me parece sempre demasiado longa. destas saudades e destes silêncios. quase gosto. destes braços quebra-nozes. abraços de distância e desespero.
quase gosto destes abraços em que me encostas à parede. e o meu corpo é teu. os cabelos ficam presos entre os teus dedos. e a pele acaba por se confundir. num abraço. apertado. de desespero, desejo e saudade.




Tenho saudades de abraçar assim...

terça-feira, maio 25, 2004

Parada

parada. no meio da estrada. meio adormecida ou dormente. sem me importar com quem passa ao meu lado. se é que alguém passa. não sinto nada. permaneço quieta no meu pesadelo diário. o pensar que dói. numa noite tão escura como esta. em que o abismo espreita em cada entrada. e o próximo passo (quando o der será para lá. O absimo de sonhos. o caos antes da estrela. a chuva antes do sol. por enquanto adormecida ou dormente. parada. à espera da vida. à espera de mim mesma.

Com

palavras pequenas confesso: quero-te encontrar por aí. outra vez. quero que os nossos caminhos se voltem a cruzar e eu te possa dizer tantas coisas. essas mesmas que ainda não disse a ninguém. quero estar nua para ti. brilhar à luz branca do Luar. do teu. que adivinho nos beijos que trocámos que será um Luar pleno. de brilho e de magia. isso é só a minha imaginação. argumentas tu. será?
espero para ver. arrisco. num já consentido jogo. contudo temido. porque não sei o fim. não me imagino no fim. sei só que ainda sorrio. por mim.

segunda-feira, maio 24, 2004

mil vezes

disse que era o fim. Que depois disto ou daquilo tudo haveria de terminar. queria um fim simples, sem muitas lágrimas, sem mais desilusões ou discussões. queria pelo menos conservar o teu sorriso entre os meus braços, o cheiro da tua pele na minha. queria que ficasse algo de bom depois de nós. queria que houvesse esse depois de nós. acabou. quebraram-se as pontes. ficou o silêncio das madrugadas em que já não nos veremos e o vazio das palavras que já não diremos um ao outro. nunca mais. nem mesmo em sonhos. a varanda, as noites e os cafés, as músicas e os cigarros vão continuar. agora apenas comigo. porque acabei por partir. sozinha.

domingo, maio 23, 2004

Sem mãos

porque já não preciso delas. As minhas não se podem unir com as tuas. sem olhos porque não posso ficar-te noites a contemplar-te enquanto dormes. sem sentidos porque não te posso sentir. Sem ouvidos porque não te ouço a chamar-me. sem voz porque não te posso dizer que te amo. sem nada. sem ti.

domingo, maio 16, 2004

Como se...

hoje fosse já amanhã, num dia bem mais tarde, onde eu te pudesse dar a mão sem ter de fechar os olhos com muita força. Como se eu te pudesse prender contra a parede e devorar o teu corpo com a ponta dos meus dedos. Como se as minhas palavras te pudessem hoje e para sempre prender. Como se não houvesse distância. Como se hoje e só por hoje tudo fosse mais do que um sonho. Como se hoje a minha realidade pudesse ser o teu sonho..

sexta-feira, maio 14, 2004

Mudo

de nome, de número de telefone, de morada e de cidade. Assim sei que não me vais poder encontrar. Assim é mais fácil perceber porque não sei de ti. Assim encontro uma boa desculpa para o teu silêncio. Não és tu que não queres saber de mim. Fui eu que desapareci. Repito mil vezes esta mentira. Um dia, num dia qualquer, ela tornar-se-à verdade em mim. No teu silêncio. E na minha espera.

sábado, maio 08, 2004

Em jeito





... de despedida falas-me de cavalos que são impossiveis de deter e que precisam de correr soltos por aí. Como tu, disses-me tu. Não te posso agarrar, nem prender. Falas-me de liberdade que tanto ambiciono e dás-me a solidão como factura. Mostras-me um mapa cheio de caminhos e de viagens que quero fazer e dizes-me para partir sozinha. Sem abraços, sem braços que me esperem depois, no regresso. Incerto e tardio, prevês tu. Com um beijo casto na testa, apelidas-me de guerreira. Não sei se sou, nem sei se quero ser. Acho que preferia acabar as minhas noites nos teus braços. Parto. Sozinha. Com a certeza que desta vez, não estarás à minha espera na estação. Em jeito de despedida, confesso-te: és capaz de ter razão há cavalos demasiado selvagens e sobretudo há quem não tenha força, jeito, sentimento, para os conseguir deter. Em jeito de despedida, digo-te ainda: amei-te. Por tudo o que não pudeste ser para mim.

Hoje sou

as palavras que me custaram a sair. Sou o eco das tuas palavras mal pronunciadas. Sou as lágrimas que não me atrevi a chorar à tua frente. Doeriam mais, entendes? Sou o silêncio que ficou quando saíste. A luz ténue de um quarto que conhecemos de cor. Sou as paredes brancas que pintámos com as palavras do nosso amor. Sou no fim sozinha. Sou o sol que fica depois de tantas chuvas. Sou a terra molhada que lentamente desperta. Sou tudo aquilo que sobejou depois de ti. Sou eu. Sem mais nada. Sou eu outra vez. Sem ti.

quarta-feira, maio 05, 2004

Queria

desesperadamente que me pedisses para ficar. Meia-hora. Um dia, uma semana, um mês. o tempo que fosse. o tempo suficiente para mais um beijo, uma carícia adormecida no meu rosto de menina pequena e traquinas. Bastava apenas uma palavra. Deste-me as reticências de um silêncio que conheço de cor. Que não quer dizer nada. Ou que pelo contrário diz-me tudo aquilo que não quero saber. Que não me vais pedir para ficar. Porque já cá não estás. Pede-me para ficar... meia hora, um dia, uma semana. num beijo, num gesto ou numa palavra.

segunda-feira, maio 03, 2004

sem sentido

isto, as emoções, a escrita, enfim tudo. Acho que me fico por aqui desta vez. Não há volta a dar. O resultado é sempre o mesmo. Até um dia...