sexta-feira, novembro 28, 2003

E como tudo tem um fim

este espaço também está prestes a terminar. Não é a falta de tempo para escrever. Talvez seja a falta de palavras e mas ainda mais verdadeiro é a falta de mim. Do que vos dizer. Do que vos contar. Esperam-se as últimas coroas de flores para poder acabar de deitar a terra que é como quem diz, "delete your blog", as orações para que o blog descanse em paz, as lágrimas da ausência e as saudades que ele vai deixar. Espero por isso tudo, para nos dias mais próximos me convencer a deixar este espaço. O meu luar.

quinta-feira, novembro 27, 2003

Voo

Voo. Mesmo com as asas magoadas e feridas. Não encontro local onde pousar e por isso continuo a voar. Cada vez mais alto. Cada queda dói mais do que a anterior, porque por detrás dessa queda há tantas outras acumuladas em si mesmas e que ainda doem. Mas não passo pela vida a planar. Isso não. Isso não consigo. Isso não sou eu. Gosto de sentir o vento frio, o temporal, de me enfiar dentro do nevoeiro espesso á procura de algo indefenido. Persigo o sol que incandeia o olhar. Voo de asas feridas. De olhos vendados. Voo, mas não plano. Isso não. Isso não sou eu. Nem quero ser.

Posso não te ver

como dantes, como quando nos encontrávamos diariamente e as nossas conversas eram horas roubadas ás aulas que trocávamos pelo café e pelos cigarros fumados no café do costume. Posso não contar as novidades do dia, do mês ou do ano. Podes não saber de que cor pinto as minhas unhas ou o meu cabelo, ou não reconhecer já o meu estilo de roupa, mas acho que ainda sabes o principal. Ainda sabes porque sorriem os meus olhos e ainda advinhas lágrimas em qualquer das minhas palavras. Por isso, posso não te ver, e não te vejo mesmo há um ano ou dois e não falo contigo há meses, mas continuas Amiga, como dantes, como sempre.

Espero que saibas reconhecer-te nestas palavras...

terça-feira, novembro 25, 2003

de volta ao tempo

que me esquece, que passa por mim e não me vê e não me leva para lá daqui. De volta ao tempo que não me traz notícias tuas. Eu sei... é preciso esperar. As palavras voam para lá de mim e tentam de todas as formas encontrar-te. Queria-te ter aqui. Sem ter de esperar muito. De volta ao tempo que não me traz notícias tuas...

Não consigo

deixar de escrever hoje. Adio as obrigações, escapo-me aos horários e ás pessoas e isolo-me aqui, nesta sala cheia de pessoas sérias e compenetradas que pesquisam e trabalham e eu escrevo. Porque é a forma de te encontrar e de me encontrar a mim mesma também. Num dia frio, mas cheio de sol, cheio de emoção. Em que sorrir faz mais sentido do que qualquer outra coisa. E é assim hoje que escrevo com um sorriso nos lábios e um outro bem mais profundo que se adivinha nos olhos castanhos de amêndoa. Amarga ou doce? Já foram doces. Agora talvez voltem a sê-lo novamente, se o sorriso perdurar. Se os medos, a rotina e tudo o resto não o estragar. E será ainda mais sorriso se tu existires.
O amor existe. Bem como as paixões. E fazem sofrer. E fazem ultrapassar os nossos próprios limites. E fazem-nos pôr em causa os nossos príncipios e aquilo em que acreditamos. Mas também nos fazem sorrir com os olhos. Chama-me romântica ou emotiva, não me importo. Mas ainda acredito no calor dos corpos quando faz frio. E principalmente ainda acredito na partilha e na entrega de um espaço, de um tempo vivido a dois. Porque é isso: são as emoções que me fazem viver. Chorar e rir. Cair e continuar. Um dia, talvez acredite em ti e te dê razão. Não hoje, não ainda.
Apesar de tudo e por talvez por isso tudo ainda acredito que é possivél. Não deixes tu de acreditar...

Garrafinhas de água...

Plagio-te. Mas adorei a expressão, acho que diz tudo sobre a escrita. A tua e a minha. Isto que escrevo aqui são desabafos espontâneos sem qualquer pretensão a literatura. São contracções de uma dor de parto interminavél. São espasmos (de novo o plágio, desculpa!) que me assaltam diarimanete. Mesmo quando não tenho nada para dizer. Como hoje. Em que o silêncio do primeiro encontro e da supresa foram ultrapassados pelos risos e sorrisos cheios de espontaneidade. Adorei conhecer-te. Agora quero descobrir-te. Sem pressas. Sem paixões e sem amores porque isso não existe, verdade?

segunda-feira, novembro 24, 2003

Figuras geométricas

Não gosto de figuras geométricas. De linhas contínuas e perfeitamente delineadas a régua e esquadro. Gosto do improvável. Do imprevisto. De linhas curvas. Detesto triângulos. Um dos vértices acaba sempre magoado. Ou então todos. Prefiro linhas sem destino que caminham juntas ou separadas, mas sem uma direcção pré-definida. Gosto de encontros. De desencontros que redundam em desilusões, mas que nos contam uma experiência feita de lágrimas e desesperanças. Prefiro tudo isso a viver amarrada a uma figura geométrica. Como um triângulo em que um dos vértices acaba magoado. Arrisco sair da segurança da desilusão e da tristeza para novas aventuras. Fora do triângulo. E fora de qualquer figura geométrica, rumo ao imprevisto. Ao futuro. Das linhas curvas. Aos encontros e desencontros.

domingo, novembro 23, 2003

Eu sei que vou te amar

"Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida, eu vou te amar
Em cada despedida, eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Pra te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida"

Vinicius de Moraes

É a música simples que ecoa no teu beijo. A banda sonora do meu sonho. As palavras soltas que se proferem de vez em quando. É a ausência, a saudade e a dor. Os sorrisos, os abraços e os beijos. A entrega, a partilha e a esperança. És tu. Sou eu. É o amor. Em palavras...

sábado, novembro 22, 2003

Tempo

elasdisseram que o que o tempo quando dói é devagar. Aproveito o mote e olho para o relógio. Os ponteiros parecem que não saem do sítio. Ainda falta tanto para me vires buscar! Já me vesti e despi umas dezenas de vezes. Maquilhei-me mais umas quantas vezes. Pus umas gotas daquele perfume que tanto gostas, atrás das orelhas e nos pulsos. E espero por ti. Pelo tempo que não passa. Espero por esse outro tempo que ainda não passou. Dos beijos que se dão no canto na boca, quando se quer e se adivinham os outros. Profundos e deliciosos. Das mãos que brincam insistentemente com o cigarro ou com a colher do café. Enquanto o tempo, não se deixa enganar e anda devagar. Enquanto olhos devoram outros olhos e as palavras fazem as vezes de corpos que se querem juntos, antes que o relógio pare e o tempo, o nosso tempo acabe. Porque acaba quase sempre. E quando dói é devagar. Como agora, que para variar, estás atrasado. Ou será que sou eu que estou demasiado adiantada?!

sexta-feira, novembro 21, 2003

Solidões...

Dizem que a paixão o conheceu

dizem que a paixão o conheceu
mas hoje vive escondido nuns óculos escuros
senta-se no estremecer da noite enumera
o que lhe sobejou do adolescente rosto
turvo pela ligeira náusea da velhice

conhece a solidão de quem permanece acordado
quase sempre estendido ao lado do sono
pressente o suave esvoaçar da idade
ergue-se para o espelho
que lhe devolve um sorriso tamanho do medo

dizem que vive na transparência do sonho
à beira-mar envelheceu vagarosamente
sem que nenhuma ternura nenhuma alegria
nunhum ofício cantante
o tenha convencido a permanecer entre os vivos
Al Berto

quinta-feira, novembro 20, 2003

Desculpa

não te posso conceder esse desejo. Hoje voltar a escrever iria ser uma seca para quem está desse lado. porque iria escrever sobre ti, que me lês avidamente, que me fazes corar como ninguém, que vampirizas os meus pensamentos e que relembras como é bom sentir-nos acompanhados num mundo onde andamos cada vez mais sós.
Além disso não seria um texto deprimente, porque tu fazes-me bem. Não haveria lágrimas, nem tristezas para descrever, nem zangas com o mundo, ou memórias para acabar de esquecer. Só palavras que enchem imensas frases com que nos vestimos e despimos mutuamente.
Voltar a escrever hoje seria isto. Que achas? Ainda manténs esse desejo?

palavras e vozes

Ainda não acredito que existas. Desculpa. Mesmo depois de tantas palavras que já¡ me escreveste e que começaram por acaso. Acredito que não devas ser real. Não há pessoas assim.
E depois, estes encontros são feitos disto: de palavras... que falam de poeiras suspensas que pairam no ar. Poeiras que ninguém parece ver. Tal é a pressa de passar pelas coisas, pela vida. Por isso repito: não acredito que existas, que consigas ver e sentir estas poeiras. Já não há pessoas assim, disseram-me um dia. E eu fingi acreditar.
Ouvir a "Voz" foi mais um passo para essa irrealidade que já me acostumaste. E se sempre quis que a nossa realidade fosse apenas virtual e o nosso universo apenas a blogoesfera, agora começo a desejar uma outra realidade.
Não adivinho o futuro. Nem faço projectos. Nem deixo a imaginação voar mais. Fico-me por aqui, nesta nossa realidade feita de palavras e de vozes que se cruzam em espaços desconhecidos. Não sei se és real. Se existes para alguém destas vozes e palavras cheias de mistérios para descobrir.
Agora somos dois em busca da aventura. Três, se contarmos com o Indiana Jones que nos ajudará a percorrer as trilhas mais dí­ficeis e a evitar armadilhas.
Alinhas na aventura?

Doenças...

«Hoje tu nãos estás doente. Nós nunca estamos doentes. Por vezes sentimos no corpo agressões que desconhecemos. Por vezes com forma, outras apenas essência. Sentimo-nos mal quando atacados por formas com corpo. Que mais não nos fazem do que atiçar o fogo da essência que nos arde na mente» Ink
Leio-te e releio-te com a avidez do costume. Habituas-me mal com os teus comentários...
Hoje, ao ler-te ficam muito poucas palavras para dizer. Ficam entaladas na garganta que seca a cada palavra. Por isso já não falo. Nem escrevo. Deito-me á sombra da bananeira, colhendo os louros da cor que dás a este blog com as tuas palavras.

terça-feira, novembro 18, 2003

Eu e só eu...

Danem-se as convenções, o que deveria ser, as leis e as normas sociais. Hoje não me apetece cumprir o papel de amiga boazinha. Hoje e só hoje, permito-me mandar o mundo á fava. E dizer que estou mal, zangada. Contigo que não tens culpa e passas por mim na rua e nem sequer me olhas. Ou com os outros, os que verdadeiramente têm culpa, mas não sabem. Ou com aqueles que sabem que têm culpa e estão-se nas tintas para como me sinto. Resumindo: hoje e só hoje estou farta do mundo.

segunda-feira, novembro 17, 2003

Porquê?

Porque escrevo assim? Porque é assim que as palavras acontecem na minha cabeça. Porque é assim que os sentimentos fluem dentro de mim. Porque é este filtro invisivél que me toma de assalto e transforma a realidade em qualquer outra coisa. Talvez ainda mais deprimente. Mas mais minha. E ainda mais íntima.
Conheces-me a sorrir com os lábios. Por vezes até com um certo brilho no olhar. Mas esses estados de alma não impedem este outro que é a falta de um luar dentro de mim.
Chega de respostas e explicações. Escrevo assim. Sou assim...
Gostas?

Palavras...

Olho-me ao espelho enquanto converso contigo. Por vezes as tuas palavras são as minhas. Fallas-me de coisas que conheço de cor e de outras que me permitem fechar os olhos e voar. Viajar para além deste presente castrador em que mal te posso tocar e menos ainda confessar o quanto te quero. O quanto és importante. E, sim,isto é uma declaração de amor. Que sei, que nunca irás ler. Por isso me atrevo a fazê-la.
Confessas-me que te custa ler-me... porque te toca demasiado. Porque tens medo das minhas palavras, onde acabas sempre por te encontrar. Mesmo que não queiras e que passes a vida a fugir delas.
São só palavras. As minhas. As tuas. E nunca as nossas...

sábado, novembro 15, 2003

Pequenos Nadas

Este texto não foi escrito por mim, mas antes por um AMIGO. É por isso, um sentido tributo à amizade. E ao amor. Esses pequenos nadas que nos juntaram e agora nos unem.

A Ti afilhada
Para o teu blog, se achares merecedor disso.

Estava eu sentado na mesa, em casa da minha afilhada Maria da Lua, afilhada de faculdade, entenda-se, a beber o café que esperava que me fizesse acordar do vinho, quando disse:
- Um dia hei-de escrever um livro chamado: “pequenos nadas”! E todos se riram de mim, ninguém sabe o que são pequenos nadas, pelo menos os meus...

Sting falava comigo da distante aparelhagem que ecoava do fundo da sala: “ If he loved you like I love you... prontamente pedi um momento para mim, para me entregar a memórias e a sentimentos antigos, como é óbvio, ninguém respeitou.
- Esta faz-me recordar alguém! Chama-se .............! - no entanto mentia, mentia com todos os dentes que tinha na boca, não me fazia lembrar ninguém, apenas me despertava para o sentimento de vazio que nos consome quando somos eternamente apaixonados e não temos ninguém que mereça tal partilha... Amar é, acima de tudo, partilhar, se tal não existir, não passa de um sentimento egoísta de possuir alguém para nosso puro prazer. ( Sim, ponto final. Não há grande teoria sobre isto que não redunde em fracasso, quem pensar o contrario é louco, ou está simplesmente unilateralmente apaixonado.)
Lembrei-me de todas as gajas que fodi e continuo a foder e nunca gostei, de todas aquelas que amei e nem me atrevi a entrar de tão sagradas serem, e por final, de todas aquelas com quem partilhei a minha breve existência e nunca me mereceram tocar..
- Jorge, lembrei-me agora! Também penteias os pelos púbicos quando tomas banho?- perguntou um outro amigo nosso
- Claro!- respondi, prontamente.
- Que raio de conversa!, disse a Maria da Lua ... porque fazem isso...?
- Porquê? Não puxas os teus para cima também, quando estás no duche?
- Como é que sabes isso?
- Todos fazemos isso!
Pequenos nadas, que me hei-de recordar para sempre, momentos eternos na sua pequenez. Somos demasiadamente iguais às vezes para não saber o que o parceiro do lado pensa, e mesmo assim perdemos tempo a mais a perscrutar a origem do silêncio, em busca do nada. Enfim! Em busca de nós próprios...
Reticências a mais para um texto que se procura profundo, típico de quem escreve a negrito...
Pequenos nadas, pequenos pedaços de mim que ficam por onde vagueio, laivos de cheiro que não chegam a ser perfume. Ai! Como eu adoro cheirar!


Jorge Barros

Algures num dia de insónia, daqueles que nunca me hei-de lembrar, mas que para sempre hão de ficar cravados em mim.”

5. Amêndoas

Agora que aqui estás no meu colo, nem acredito. Os meus dedos passeiam pelos teus braços e de vez em quando deixam-se enrolar nos teus dedos. E ficamos assim. Presos e felizes. Em noites e em dias.
Deixei que o tempo passasse sobre nós. E tu aprendeste a confiar. E eu aprendi a esperar.
Vejo o brilho nos teus olhos e sei-o adivinho-o. Agora são olhos de amêndoas doce. Porque um dia já foram amargas. Mas isso é apenas um passado distante.
- Olhos de amêndoa doce ou amargas?
- Doces... - respondeste-me tu.

4. Amêndoas

e o beijo traiu-me. Ficaste a olhar-me espantada. Como se aquele beijo te tivesse violado. E violou, explicaste-me mais tarde quando as lágrimas assomaram ao teu rosto e me falaste de um pai, de marcas de cigarro no corpo, de palavras e de abusos, de segredos e mentiras silenciados pelos anos.
Nesse instante percebi porque é que os teus olhos já não eram amêndoas doces. "já foram", como me garantiras tu.
Numa confusão de sentimentos, acabei também por te odiar. Porque raio haverias de ter tu, um passado tão traumático, tão cheio de fantasmas e de feridas? Porquê é que não poderias ser uma mulher entre tantas outras? E ainda mais, porque raio apesar disso tudo, eu continuo a querer-te?

3. Amêndoas

Acho que não há o momento certo para um beijo. Pelo menos nunca haveria para o nosso. Porque o tempo é um inimigo traiçoeiro que nos ilude ao transmitir uma noção de segurança.
Mas não foi segurança que me levou a querer beijar-te. Foi o tempo. A sensação de que o tempo que eu deveria esperar não passava e eu queria-te cada vez mais. E tinha de te ter. Provar o sabor dos teus lábios e sentir o para lá desses olhos. Tão amargos na expressão e tão doces na minha imaginção.

quinta-feira, novembro 13, 2003

continua...

A história das amêndoasvai continuar.Mas por hoje fico-me por aqui. Imaginem também vocês a continuação.

2. Amêndoas

Passámos imensas tardes nessa e noutras esplanadas á beira rio. E os teus olhos sempre postos no horizonte.
Sou homem por isso não nego o desejo que sentia por ti. Abraçar-te, aquecer a tua pele com a minha, tomar-te nos braços contra uma cama e sugar a força com que vivias cada momento e a intensidade com que falavas.
Mas mais do que tudo isso queria penetrar nos teus olhos, descobrir-lhes a alma. O riso e as lágrimas que escondeste sempre.
Arriscava tudo. Mesmo sem adivinhar quais eram os riscos. Porque te queria...

1.Amêndoas

Vi-te. Eras toda caracóis e olhos. Ambos castanhos. Foste-me apresentada por um amigo comum e ficámos toda a tarde na esplanada à beira-rio a falarmos. Rias imenso. Como uma menina que também eras. Cada palavra tua trazia consigo imagens que nos libertava a imaginação. Gesticulavas imenso. Em suma, falavas com todo o teu corpo e com todo o teu espírito. Enquanto os teus olhos castanhos de amêndoa continuavam parados, fixos no distante horizonte.
Ao despedirmo-nos, não resisti a perguntar-te:
- Olhos de amêndoa doce ou amarga?
- Já foram doces, respondeste-me tu.
E eu sorri. E quis falar. E quis conhecer ainda mais esses teus olhos...

terça-feira, novembro 11, 2003

não era suposto escrever mais hoje...

Mas há desejos maiores, fortes que nos transportam para lá de nós mesmos. Este foi um deles. Escrever sem destino e se calhar sem sequer ter um sentido, como caminhar por uma praia deserta. Na mais pura das solidões, acompanhada apenas pela lua.
Ao caminhar, enterro os meus pés nas palavras e deixo-me acariciar pelas ondas que procuram, insistentemente, os meus pés. Ondas magnéticas que me trazem de volta as emoções, que escorrem pelos meus dedos e me permitem estar aqui a teclar, sem nada para dizer, a não ser que gosto de estar aqui... a enterrar-me nas palavras e a ser levada pelas emoções. As minhas ou as vossas?

Esqueço-me

de mim, quase sempre. Mas ontem foi de ti que me esqueci. De pensar em ti. Em nós. No que não aconteceu e no que gostaria que tivesse acontecido. Em como seria se os nossos lábios se voltassem a tocar, ou se eu me pudesse deixar enterrar nos segredos dos teus olhos. Ontem esqueci-me de tudo isso. O que é muito bom. Talvez amanhã te acabe de esquecer. Talvez amanhã, olhar para ti deixe de doer. Talvez.

Almas...

Daqui, deste lugar onde ninguém me vê, digo-te que sim, que escrevo com alma. Escrever da forma como escrevo é perigoso. Corre-se o risco de ficar demasiado
exposto e vulneravél perante os outros. E, ao reler, muitos dos meus textos,
comovo-me e sinto-me nua perante vocês. Mas assim é a única forma que sei
escrever. É também a única formúla que conheço para viver. Duvido que seja a
mais acertada, mas de momento é a única que consigo seguir: ser eu mesma.
Sem máscaras. Sem mentiras. Sem jogos inúteis.
Não sei agradar. Não sei vender o meu peixe. Sei ser eu, quando me o permitem.

sábado, novembro 08, 2003

Por vezes...

"E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos."

David Mourão- Ferreira

Porque por vezes são os ecos deste poema que me acordam.
Para o sonho.
Para a vida.
Para as lágrimas.
Porque por vezes ainda dependo destes ecos para viver...

sexta-feira, novembro 07, 2003

A mulher...


Gala Nude from Behind, Looking in an Invisible Mirror, Salvador Dali,1960

Adoro este quadro de Dali. Porque é no silêncio deste quadro que as palavras
perdem todo o sentido e o amor adquire as suas verdadeiras tonalidades.
A nu. Numa cama qualquer. Uma mulher. E um homem.
Que a vê, a ama e a pinta. Que mais se pode dizer perante isto?

quinta-feira, novembro 06, 2003

Tão bonita...

“Tão bonita, estás tão bonita hoje”.A música entra no ouvido e lá fica a frase na cabeça a martelar continuamente. Linda. Simples, discreta, quase sem maquilhagem, quase sem acessórios. Altiva. Bonita. Tão bonita, como na música.
O espelho devolve-lhe a imagem dessa beleza etérea, vaga e suspensa por suspiros mediante a eterna insatisfação de si mesma. O som da música invade-a. O corpo aceitou a melodia e os seus passos acompanham o compasso. Não há nada a fazer. Incrivelmente vaidosa. É um pecado. Sabe-o bem... mas hoje, só hoje... permite-se sentir-se assim. Bonita...
Sozinha também. À espera. Prometeu vir buscá-la há mais de duas horas atrás e está atrasado. Chegará cheio de desculpas inventadas à pressão e um ramo de rosas na outra mão mão, ela adivinha. Foi já assim tantas vezes. E ela conhece-o tão bem! Talvez por isso, hoje ela quer, desesperadamente, que ele chegue mais depressa. Para beleza que hoje a inundou não fuja ou se quebre. Ela quer que ele veja a onda de luz que se apoderou dela e ouça no eco dos seus beijos, a canção que lhe martela os ouvidos: “Tão bonita, estás tão bonita hoje”.
Ele não vem. Não costuma atrasar-se tanto. Virá? Os olhos começam-se a fechar com o cansaço. A beleza ameaça fugir. A maquilhagem esborrata-se pela face e o lindo vestido amorrata-se e rasga-se. “Tão bonita, estás tão bonita hoje”. A música, refrão repetido vezes sem conta no gira-discos e as olhadelas ao espelho, começam a perder todo o sentido. Que sentido tem a beleza, se ninguém além de nós, a puder ver? Para ela, ser bonita só fazia sentido para ela em primeiro lugar e depois para ele. “Tão bonita, estás tão bonita hoje”.
Agora já não é bonita. Porque ele já não vem. Contudo soam ainda os acordes da música e a letra continua no ouvido como se se tratasse de uma lenga-lenga, que de repente num acidente estúpido na estrada, se transformou numa marcha fúnebre. “Tão bonita, estás tão bonita hoje”.

terça-feira, novembro 04, 2003

Não, Amor, não.

Fala-me de tudo o que quiseres. Mas peço-te. Imploro-te, não me fales de amor. Fala-me de paixão, aventura e loucuras. Amor, não. Não me fales de amor, de partilha, de carinho. Podes-me falar de prazer, de carne e de calor. Jamais de amor. Proíbo-te. Não quero silêncios ou promessas. Juras ou compromissos. Futuros ou passados. Quero-te só aqui. Não, lá fora, com toda aquela gente a olhar-nos e a inventar-nos sentimentos.
Sem sombras nos olhos. Sem medo de amanhã ao acordar, não te ver. Sem medo de te tocar e não encontrar em ti, o que sempre encontrei. É este o medo. São estas as sombras que não quero ter. Sem perguntas desnecessárias, justifico-me. Sim, houve alguém antes. Se ficas mais descansado, dir-te-ei que sim, que esse alguém me fez mal, só assim compreendes que a culpa não é tua, e que não podes tentar-me convencer a falar, a querer falar de amor.
Não sei porque preferes as mãos dadas num jardim, quando podes ter o meu corpo junto ao teu numa qualquer cama, não entendo o teu gosto em sair a meio da tarde para me levar a um restaurante romântico e, no fim, dares-me um anel e declaraste eterno. Eu sei, tu sabes, todos sabem, a eternidade acaba num qualquer momento. Não te quero eterno. Não tanto tempo, não quero incorporar o teu cheiro no meu corpo. Não quero ser a tua princesa, nem quero que tu, o meu encantado príncipe, me salve das muralhas da solidão. São obra minha. Não do anterior alguém, o qual culpas por todos os “azares” da nossa relação.
Esse, só me embebedou com uma bebida doce, que engoli num só gole. Juntou amor, paixão e loucura. Noites, luas, mãos dadas nos jardins, promessas, juras, anéis e restaurantes. Porém, a verdadeira essência da bebida estava escondida, o poderoso álcool, só o descobri no fim, quando a doçura se transformou em amargura. Não, amor, não. Não me fales de amor. Tapo os ouvidos e esqueço-me de que falas. Tarde ou cedo, calar-te-ás. Espera, podes continuar. Não espero por nenhum amor. Tenho a eternidade para te ouvir.

Não sei se sabes, nem sei se é importante dizer, mas aqui vai: amo-te...

domingo, novembro 02, 2003

É bom falar contigo...

mesmo quando me relembras o que é sentir emoções e desejos que estou proibida de sentir. Porque me fecho. Porque me faço de esquecida. Lá fora há um mundo de impulsos magnéticos que empurram as pessoas umas contra as outras. A mim empurram-me para aqui. Para a escrita. Mas é bom falar contigo. Por mais injusto que seja relembrares-me aquilo que ainda não posso viver.

Nada

Apenas isso. Nada. Vejo-te e não sinto. Caminho pela rua, bebo, fumo, converso, rio. E nada. Não sinto nada. Só uma dormência interior. Como se eu não fizesse parte do que me rodeia. Como se o silêncio atroz que pôs fim às nossas conversas, fosse frio e tivesse acabado por congelar as emoções e até os mais primitivos desejos. Hoje acho que é apenas isso, não me sinto. Por quanto tempo ficarei assim? No nada?